Mais uma vez nos vimos com a responsabilidade de listar os melhores álbuns do ano 😉
Como sempre essa tarefa é levada mais do que a sério, e para isso fomos ao longo do ano selecionando grupos e artistas de todos os países para audições detalhadas. Vale lembrar que a lista não faz distinção alguma de gêneros e nacionalidades, e por isso mesmo não optamos por uma lista com o top 10 Brasil, colocando a música brasileira em pé de igualdade com europeus, africanos, asiáticos, latino americanos e norte americanos.
O principal critério para um álbum entrar na lista é mesmo a qualidade e unicidade do lançamento, avaliando a qualidade das composições e relevância da obra para o planeta nesse ano.
Posso dizer que mais de 320 álbuns entraram no radar e aos poucos a lista foi se solidificando, privilegiando independente de fama ou hype, os álbuns que mais fizeram a cabeça do Vi Shows em 2019.
Não entram na lista, coletâneas, álbuns ao vivo, regravações e tributos, como forma de privilegiar criações originais.
O ano foi tão bom em termos de novos lançamentos, que artistas que costumam frequentar o topo de nossas listas acabaram ficando de fora.
Foi o caso de bandas como o Wilco, El Mato a un polícia Motorizado, Dead Fish, Opeth, Bandalos Chinos, Drangsal, Anderson Paak, Kawala, Residente, Fumaça Preta, Bedouine, Ariel Pink, KXM, Ty Segall, Ave Sangria, Céu, Green Day, Liam Gallagher, Guided By Voices, Capitão Fausto, The Raconteurs, Perry Farrell, The Black Keys, Sleater-Kinney, Edwyn Collins, Weezer e muitos outros que brilharam em 2019 mas ficaram de fora da lista. Minha dica é que OUÇAM TODOS ESSES ÁLBUNS !!
TOP 20 álbuns de 2019
20º Queen Zee
O quinteto de Liverpool estréia com ótimo álbum auto intitulado, carregando nas doses sonicas do glam rock e do punk em cada canção, que ainda contam com letras diretas e cheias de referências à cultura pop, citando Depeche Mode, Steely Dan e The Cramps.
Destacaque para o vocalista Zena Davine (aka Queen Zee), que em momentos de puro Lou Reed, mostra a vivência das ruas em rimas inteligentes e perversas.
O álbum vai além de uma releitura do legado punk e evita as convenções de forma inteligente, mas também carrega uma certa melancolia nas doses de realidade e nas mensagens políticas e engajadas tanto para a comunidade trans quanto para qualquer jovem sedento por se descobrir e viver os dias atuais, ajudando a colar no grupo uma imagem power-punk sem limites e censura.
As canções ajudam na coroação de uma banda que passou pela disformia de gênero e pela homofobia, apenas para emergir do outro lado como ícones para a ideologia representam, um banda sem medo de se importar e de expor sentimentos.
DESTAQUES: “Loner, “Idle Crown” e “Boy”.
19º Sneaks – Highway Hypnosis
Eva Moolchan já vinha marcando seu espaço com os primeiros trabalhos de seu projeto Sneaks, mas em 2019 a coisa ficou mais séria com o álbum “Highway Hypnosis”, que mostra um minimalismo inteligente, privilegiando somente o essêncial das melodias e ritmos de cada uma das canções, muitas vezes somente sugerindo notas e beats, convidando os ouvintes a entrar de verdade nas músicas.
Fala-se muito de uma visão pós punk em seu trabalho, mas acho tão original o álbum que qualquer rótulo parece pouco para decrever os beats que passeiam pelo reggae, hiphop e trip hop com muita personalidade e letras bem pensadas.
Me peguei dançando sozinho mais de uma vez nesse álbum, aposto que o mesmo pode acontecer contigo 🙂 !!
DESTAQUES: “The Way it Goes”, “Money don´t Grow on Things” e “Cinnamon”.
18º TOOL – Fear Inoculum
Minha primeira reação ao saber que o TOOL após 13 anos havia lançado um novo álbum não foi de muita empolgação, e justo em agosto de 2019 as coisas estavam corridas e acabei demorando a escutar “Fear Inoculum” como devia, na íntegra e sem interrupções.
Nessas condições fica claro o quanto a banda norte americana evoluiu, conseguindo criar um conceito mais do que adequado aos nossos tempos, uma trilha perfeita para uma sociedade que se fragmenta pelo medo, criando as condições para uma dominação sem limites éticos, tudo isso em 80 minutos de um rock apocaliptico, que flerta com experimentalismos e com o rock progressivo em longas faixas.
O álbum também saiu numa versão especial com edição ampliada num livro que inclui cartões lenticulares 5 X 3D com gráficos exclusivos, um livreto expandido de 56 páginas com arte adicional nunca vista antes, um download do vídeo imersivo da experiência visual “Recusant Ad Infinitum” e o próprio CD.
DESTAQUES: “Fear Inoculum”, “Pneuma” e “Invencible”.
17º Bob Mould – Sunshine Rock
Com suas bandas anteriores Husker Du e Sugar, Bob Mould se consolidou como um dos compositores mais importantes do rock alternativo dos 80´s e 90´s, ajudando a abrir espaço no mainstream com seus rocks de pegada punk mas cheios de energia e melodias inspiradoras.
Nesse seu 13° álbum solo – Sunshine Rock, a primeira reação é de uma volta à sua bem sucedida forma original. Que maravilha !!
A faixa-título ajuda a resumir o álbum, mesmo sendo uma canção de amor é dolorosa e emoldurada por uma super guitarra, com Mould em seu melhor quando está implorando, fazendo você se perguntar quem poderia dizer não à promessas heróicas, com cada canção abordando o prazer e a dor que compõem a vida.
Mas nem tudo são canções de amor no álbum, que mostra uma raiva e angústia com a passagem do tempo, como em “Sin King” que aprofunda o tema, lamentando a perda de aliados que ficaram do lado do inimigo, em versos que brilham ao dizer para aqueles que “odeiam o pecado, amam o pecador”, que amarram seu ódio em “ansiedade econômica”, enquanto sorriem para os vizinhos e selfies enquanto sofrem.
DESTAQUES: “Sunshine Rock”, “What do You Want me to Do” e “Sunny Love Song”.
16º Michael Kiwanuka – Kiwanuka
O terceiro álbum de inéditas de Micheal Kiwanuka é inspirador, calcado num soul folk psicodélico, consegue ser atual usando bem todas referências que compõe a persona artística do músico britânico, que fez fama no início da década ao ser escolhido como show de aberura da cantora pop Adele.
A cada audição o álbum definitivamente cresce, ficando ainda melhor se executado em uma sessão ininterrupta, já que as faixas se entrelaçam numa mistura tão interessante de estilos em evocação aos anos 60/70, explicitadas nas ótimas guitarras wah-wah, nos diálogos de fundo e nos arranjos grandiosos com harpas, violinos e com coros gospel embalando temas psicodélicos.
Kiwanuka fica acima da cabeça e dos ombros com uma coleção complexa, comunicativa, poética e por vezes até profunda, que veste seu coração e alma no álbum, com super produção do mago Danger Mouse.
DESTAQUES: “You Ain´t the Problem”, “I´ve been Dazed” e “Piano Joint”.
15º Karen O e Danger Mouse – Lux Prima
A parceria de Karen O, líder dos Yeah Yeah Yeahs com o super produtor Danger Mouse fez de “Lux Prima” um dos álbuns mais esperados em 2019, e a dupla não deixou por menos, construindo um trabalho complexo camada por camada, apostando num pop sofisticado pronto para pistas intimas mas também capaz de entreter multidões em estádios e festivais.
Os vocais de Karen estão na vanguarda em todo álbum, combinando de forma brilhante com o som diverso retro-moderno da produção, mas embora não seja um álbum conceitual tradicional, ele cria um retrato instigante de uma pequena luz ofuscante no escuro aparentemente infinito.
Eu recomendo que se ouça bem alto ou com fones de ouvido para poder capturar melhor o clima das canções.
DESTAQUES: “Ministry”, “Turn the Light” e “Lux Prima”.
14º Durand Jones & the Indications – American Love Call
A grande variedade e cuidado de todo álbum – “American Love Call”, cimentam Durand Jones and the Indicators na música atual como um dos poucos artistas atuais que sabem reler o passado e enxergar o mundo de hoje com verdadeira compreensão de ambos.
“American Love Call” é um álbum que nenhum fã de R&B ou Soul pode ignorar, com sons que tocam fundo e de maneira diferente em cada canção.
De cara, “Morning in America” chega com uma introdução suave, agradável levada de baixo e guitarras e com vocais que se misturam perfeitamente. Também destaco “Sea Gets Hotter”, um hino despreocupado, com um coro majestral que vai além dos clichês do estilo.
O super falsete do baterista Aaron Frazer, é uma das grandes surpresas do disco, com o músico liderando seis das 12 músicas, dando um frescor e autenticidade ímpar ao trabalho, nos presenteando com uma audição atemporal e perfeito registro da alma musical norte americana.
DESTAQUES: “Morning in America”, “Sea Gets Hotter” e “Don´t You Know”.
13º DZ Deathrays – Positive Rising Part 1
Os australianos do DZ Deathrays, já tem 10 anos de estrada, e com seu quarto álbum ‘Positive Rising, Part 1’, realizaram um registro inspirado e bastante movimentado, com muita informação por toda parte, conseguindo ir além do punk dançante que os caracterizou nos primeiros trabalhos.
Certamente há uma efervescia indie e uma aboragem mais abrangente do rock por todo disco, se encaixando perfeitamente como um caminho inteligente para a evolução da banda, que brilha nas guitarras bem tocadas e nas melodias abertas e solares da maioria das canções.
“Still No Change” adiciona texturas de rock indie que tocam fundo em um refrão agitado, já o single principal “In-To-It” é um punk anti-qualquer coisa bem conectado com a atualidade, enquanto ‘Hypercolour’ diminui a intensidade para um momento surpreendentemente mais melódico e reservado.
Mas a preferida do blog é mesmo ‘Nightmare Wrecker’, onde o trio se esmera num rock de verão com cara de Austrália, e que o grupo emula sem o menor esforço.
DESTAQUES: “Still No Change”, “Hypercolour” e “Nightmare Wrecker”.
12º Sheer Mag – A Distant Call
O quinteto original da Philadelphia chama a atenção desde sua estréia em 2014, apostando numa sonoridade que resgata guitarras da tradição sulista com uma pegada roqueira que lembra de MC5 à Thin Lizzy, mas embalados com uma atitude garageira e festeira, com destaque para os ótimos vocais de Tina Halladay.
O grupo evoluiu muito nesse seu novo álbum, buscando sonoridades e referências pessoais, mas principalmente adotando um tom mais áspero e político, evocando as dificuldades econômicas de nossa era, com referênias ao trabalhismo e ao socialismo em letras fortes e inspiradas pelo falecimento do pai de Tina.
Mas mesmo a abordagem mais adulta das canções, acabam sendo uma oportunidade bem-vinda para o Sheer Mag mostrar que o idealismo sério e a diversão podem coexistir harmoniosamente.
Certamente o grupo busca fazer algo mais essencial, encontrar uma versão do rock que seja consciente de sua história e conectado ao mesmo tempo à atualidade, e em cada canção de “A Distant Call” vemos esse foco, causando uma vontade enorme de cantar junto e ouvi-los, de novo e de novo.
DESTAQUES: “Silver Line”, “The Killer” e “Blood from a Storm”.
11º Black Midi – Schlagenheim
O black midi é sem dúvida uma das maiores novidades nesse fim de década, conseguindo com seu állbum de estréia : “Schlagenheim”, chamar a atenção dos iniciados pela postura iconoclasta e pela musicalidade arrojada, que combina o combo básico do rock com sintetizadores, sequenciadores, órgãos, banjos e baterias eletrônicas.
As canções matemáticas e experimentais do quarteto inglês, conseguem combinar o noise pós industrial com porradas anti pop existencialitas, mostrando uma erudição rara no rock das últimas décadas, e que fica clara no flerte explícito com teóricos da música clássica do século 20, ao se livrarem sem culpa de estruturas e das melodias óbvias.
É impressionante vê-los improvisarem nos espaços e vazios existentes nas estruturas das canções de Schlagenheim, inovando ao buscar um tipo próprio de barulho dentro do barulho que produzem.
Adoro a abordagem dos riffs, dinâmicas e ruídos, que no lugar da estrutura de versos/refrões e solos, busca criar um pós rock progressivo hardcorizado, com canções que por vezes chegam a incomodar, mas de uma forma tão louca e cheia de variações ritmicas que engrandecem os climas e urgência das faixas.
DESTAQUES: “963”, “bmbmbm” e “Speedway”.
10º Lana Del Rey – Norman Fucking Rockwell
Lana Del Rey é uma figura que faz bem ao cenário musical, tirando fãs e críticos do lugar comum mais uma vez em “Norman Fucking Rockwell”, com precisa produção de Jack Antonoff e que traz contribuições de Louis Bell, Zach Dawes, Rick Nowels e Andrew Watt.
A combinação de piano, reverb e guitarras tornam o álbum mais viajante e ao mesmo tempo coeso desde “Honeymoon” (2015), e tão inspirado quanto “Ultraviolence” (2014), revisitando e reavaliando seu estilo californiano numa narrativa incomum para o cotidiano dos Estados Unidos.
Lana mostra sua força como uma artista plenamente realizada e que permaneceu fiel a suas obsessões estéticas e culturais, superando o período de críticas misóginas e oferencendo um olhar crítico e existencial tanto para a nação quanto para a própria esperança de um amor redentor.
Nesse álbum, ela pega tudo o que você gosta na música dela e a refina em algo tão complexo e rico que vai fazer você morrer de amor e se converter ao planeta Lana Del Rey de forma definitiva.
DESTAQUES: “Doin´ Time”, “Norman Fucking Rockwell” e “Fuck it I Love You”.
9º Nick Cave & the Bad Seeds – Ghosteen
O 17º álbum do australiano Nick Cave com sua banda os The Bad Seeds é denso e extremamente poético, influenciado em boa parte pela morte acidental de seu filho aos 15 anos de idade em 2015, podendo ser considerado a terceira e última parte da trilogia que inclui ainda “Push the Sky Away” (2013) e Skeleton Tree (2016).
Sim… pode ser dolorosa mesmo a audição de “Ghosteen” na íntegra, mas também o álbum gera uma espécie de catarse, tornando o registro uma espécie de salva-vidas ou mesmo uma rota de saída, para quem surfa a tristeza inexorável da modernidade, onde a poesia e a pungência das canções podem servir de antídoto para a onda crescente de melancolia de nossos tempos.
Por outro lado, numa audição mais atenta, algo parece mudar, com a sequencia de canções compondo um mosaico meditativo sobre dor e admiração, numa aparente dualidade onde o narrador de Nick Cave se transforma ao aceitar o sentido e a continuação da vida.
Ghosteen é uma obra-prima da melancolia, onde se pode chorar junto, mas também uma busca de consolo e redenção, certamente está entre os trabalhos mais ambiciosos e impactantes de Mr.Cave.
DESTAQUES: “Bright Horses”, “Waiting for You” e “Ghosteen.
8º Refused – War Music
O grupo Refused é uma das bandas mais politizadas de todo planeta, e não deixam por menos no álbum “War Music”, quinto trampo de estúdio dos suecos, produzido pelo incensado Martin Ehrencrona.
“War Music” é apaixonado e intenso, repleto de riffs matadores, energia comprimida e uma sensação de impulso, com a banda soando mais forte do que nunca, combinando os vocais dinâmicos com riffs e ritmos monstruosos, num apelo empolgante à revolta e às armas.
Em muitos aspectos, acredito que esse pode se transformar no trabalho mais completo do Refused, banda que independente de revivals, grana ou modismo, faz o que acredita e talvez por isso mesmo, seja atualmente cada vez mais relevante.
Não há muitos artistas em geral inclinando-se e atacando os especuladores e manipuladores da política, e são músicas como “Turn The Cross”, com seus riffs metálicos e o quase rock clássico de “Blood Red”, que atestam a evolução punk hardcore tão prezada pela banda, mas são as faixas de espírito pós-punk como “Violent Reaction” que celebram a música como ferramenta de revolta e transformação, num espírito presente em todo álbum, e que em sons como “Malfire” e “I Wanna Watch The World Burn”, revelam a essência renovada da banda.
DESTAQUES: “Malfire”, “REV001” e “I wanna watch the world burn”.
7º Rina Mushonga – In a Galaxy
O afro-pop de Rina Mushonga brilha mesmo em “In a Galaxy”, segundo álbum da cantora radicada em Londres de origem holandesa/zimbabuana, e que conseguir elevar seu nome para o panteão dos artistas pop que sabem aproveitar as raízes e a fusão com a tal world music.
Nas canções, Mushonga sente e transborda as emoções mais humanas, evocando a mágoa, o isolamento e a pressão para se conformar, mas se recusa a ficar presa nelas, convidando o ouvinte para uma jornada pelas raízes e pela turbulência da modernidade.
“In a Galaxy” aborda uma variedade de gêneros, cada um com suas próprias características, mas apesar de seus acenos claros às convenções de gênero, sua música é intercalada com o inesperado, com beats criativos e sons que congregam flautas, gaitas de foles ou mesmo dubstep em sonzeiras realmente inspiradas.
No álbum as canções parecem se mover rapidamente e suas batidas curtas nos impedem de prever com precisão para onde elas irão, instigando o ouvinte a sacar que Mushonga realmente não soa como mais nada; é real, um produto de próprio seu movimento.
A oscilação dinâmica dos gêneros logo no início pode parecer agitada, mas suas letras simples e universais garantem que possamos sempre nos envolver com a música, trabalhando as emoções mais humanas sem conformismo com perdas e mágoas, nos convidando a abraçar a turbulência.
DESTAQUES: “Narcis0”, “In a Galaxy” e “Atalanta.
6º King Gizzard & the Lizard Wizard – Infest the Rats’ Nest
“Infest the Rats’ Nest” é o décimo quinto álbum de estúdio do grupo australiano King Gizzard & the Lizard Wizard, que também se notabiliza pela enorme produção, já que nos últimos 3 anos, lançou 7 álbuns, cada um com uma sonoridade própria, fruto do processo criativo do septeto, que mergulha fundo no conceito de cada trabalho de estúdio, exercendo total liberdade criativa, também refletida na produção do vocalista e guitarrista Stu Mackenzie, e na escolha do Thrash metal e do Stoner rock como linguagens para denunciarem o apocalipse ecológico global de nossos tempos.
Na maior parte das vezes o King Gizzard & the Lizard Wizard, é definido como um grupo de rock psicodélico, mas pelo visto a banda não se preocupa muito com esse tipo de rótulo, pois se esmera mesmo na construção de uma sonoridade própria, onde tanto a estética sonora quanto a mensagem tem importância ímpar na conceituação de cada trabalho.
Os caras vão de brincadeiras e boogies sobre pássaros a uma extravagância metálica sobre a destruição do planeta e pela ganância do 1% mais rico e poderoso do planeta, com letras mais do que diretas e brilhantes, criando o melhor álbum de metal de 2019, mesmo que não fosse essa a intenção do grupo, afinal todas as faixas apresentam riffs super duros e pesados, com o toque psicodélico como assinatura da banda, contando uma história coesa onde cada faixa não perde tempo em abordar diretamente o caos do planeta terra.
Assim como os modernos revivalistas do thrash, o King Gizzard & the Lizard Wizard combina energia jovem com estilo próprio e inimitável para tornar essa excursão ao mundo em ebulição dessa era, uma experiência tensa e muito instigante. Que banda !!
DESTAQUES: “Mars for the Rich”, “Planet B” e “Self Immolate”.
5º Fontaines DC – Dogrel
De tempos em tempos temos uma banda que chega ao mercado com um álbum de estréia poderoso, esse é o caso dos Irlandeses do Fontaines D.C. em “Drogel”, disco que captura o indie rock de pegada punk dos caras em momentos da mais pura inspiração e atitude roqueira, que bandas com anos e anos de estrada adorariam ter atingido.
O álbum transparece um tremendo ardor em paisagens vívidas, que intercalam o punk rock e o niilismo com inteligência e noção estética suficiente para por fogo no circuito de festivais de verão da europa, como fizeram ao longo de 2019, combinando por todo trabalho o romance e a poesia punk, dando um sentido de urgência e criando um trabalho sólido cheio de canções prontas para se apaixonar.
O ritmo ao longo dos 39 minutos do álbum é implacável, sem muitas pausas ou restrições, imperando mesmo os riffs de guitarra ardentes e letras inspiradas, que meio que falam e meio que cantam, na melhor tradição trovadora da Irlanda, acenando claramente para os míticos The Pogues no fechamento do disco, numa ode de uísque encharcado de amor e arrependimento perdidos. Sem dúvida é um dos álbuns mais memoráveis de 2019, ajudando a criar um hype enorme sobre o grupo e seus novos trabalhos.
DESTAQUES: “Boys in the Better Land”, “Too Real” e “Big”.
4º The Claypool Lennon Delirium – South of Reality
O segundo lançamento da dupla de rock psicodélico experimental formada em torno de Les Claypool (Primus) e Sean Ono Lennon, é um “tour de force” pelo rock setentista, com temas que poderiam ter sido pensados pelo Rush em sua melhor fase, mas com uma sonoridade peculiar, que bebe no rock progressivo, sem deixar de passar pelas experiências flower pop dos 60´s.
O conjunto de canções é verdadeiramente desafiadora, mas torna gratificante cada descoberta em cada nova audição, dando ao trabalho uma sensação de abrangência que sustenta uma estética gonzo que remete às coisas mais loucas e influentes de Frank Zappa, mas tudo costurado em “South of Reality”, com extremo bom gosto e técnica.
Os muitos humores de South Of Reality são gratificantes e perturbadores, com o trabalho de duas amplas e criativas mentes abastecidas pelas melhores referências pop e do art rock do século XX.
Claro que o disco pode muitas vezes soar pretencioso e exagerado, mas o álbum merece uma audição dedicada, de preferência no volume máximo ou com fones de ouvido, ajudando a perceber a grandiosidade de todo conjunto e dos conceitos que amarram esse inspirado segundo trabalho da dupla.
DESTAQUES: “Blood and Rockets”, “Amethyst Realm” e “Little Fishes”.
3º Black Pumas