Em meados dos anos 70, Siouxsie Sioux surgiu como um dos maiores nomes provindos da poderosa cena Punk britânica, e em pouco tempo, se firmou na cena musical londrina.
O sucesso logo atravessou as fronteiras e seu nome sacudiu o mundo, deixando seu nome em evidência por um longo período de tempo. Até hoje ela conquista muitos fãs, influência várias pessoas e, de vez em quando, suas algumas de suas músicas ainda são tocadas em rádios e festas.
Porém, Siouxsie já não faz o mesmo sucesso que fez um dia. E isso até que é normal, acontece. Os tempos mudaram, o perfil das vocalistas femininas também se alterou e, de maneira geral, o perfil do público que consome música também sofreu certas mudanças – mas é claro, não estamos generalizando.
Lembro que há um tempo atrás li uma longa e interessante entrevista (não me recordo qual era a fonte) feita com a Siouxsie Sioux, durante a qual a jornalista que conduzia a conversa, em certo momento, disse que gostava da cantora porque “ela não usou o corpo para se promover, usou a cabeça”. Esse comentário é fantástico e muito relevante para os nossos tempos.
Atualmente, a maior parte das cantores que compõe a massa enlatada da indústria musical, tem como arma de sucesso o próprio corpo: seus “talentos”, na maioria das vezes, se resumem em sensualidade.
Roupas decotadas, reboladas em cima do palco, olhares provocantes e o pior é que tudo isso é complementado com letras deploráveis, cujo conteúdo é extremamente vago e pobre, geralmente abordando temas como ostentação, consumismo, poder, dinheiro, sedução e sexo.
Bem, quando não se tem talento inato ou quando não é necessário lutar para conquistar seu espaço no cenário musical, o que resta é o corpo, que pode ser usado como uma forma (na maioria das vezes… pobre e lamentável) para se autopromover.
É isso que a tenebrosa industrial musical tem feito com as mulheres… e somado ao uso de corpo (que se torna um objeto comercial), as melodias criadas pelos empresários de tais pessoas (que não podemos chamar de artistas) são muito clichês, repetitivos e chatos, embora, convenhamos, sejam ideais para complementar as letras esculachadas e padronizadas que os próprios empresários escrevem ou encomendam.
Diante de uma indústria musical arquitetada para fins comerciais e lucrativos, artistas de verdade, talentosos e diferenciados fazem falta. Usar o corpo é bem mais prático do que utilizar o intelecto e não é necessário muito esforço mental para perceber isso.
Siouxsie e sua unicidade no modo de se vestir, suas letras criativas e instigantes, sua postura questionadora em entrevistas, sua afinidade com o D.I.Y., seu exame crítico do mundo e sua voz tão potente e singular, fazem muita falta… tempos efêmeros, tempos traçados pela ameaçadora e imponente “arte do não-raciocínio”.
Mas, felizmente, o legado que ela nos deixou permanece vivo! Está aí, ao nosso alcance, para ser constantemente descoberto e redescoberto. Por vezes, é um ato saudável nos agarrarmos e explorarmos o passado, buscando encontrar nele inspirações e motivações positivas para encarar as sombras do presentes.
Celebremos Siouxsie Sioux! Confiram em nossa playlist seu rico e vasto legado!
por: Juliana Vannucchi – acervofilosofico.com.br – Colaboradora Vi Shows