Gregory Porter é sem dúvida uma das maiores vozes do planeta na atualidade, um crooner do Século 21, que além da voz aposta nas mensagens e na conscientização.
Foi um privilégio assistir a apresentação de Gregory Porter na última terça feira no Cine Jóia, o cantor norte americano é uma estrela ascendente do jazz, mas ao vivo vai muito além dos estereótipos do estilo.
A estranha noite em São Paulo, meio chuvosa e até fria, além da escassa divulgação, contribuíram para a casa estar com somente metade da lotação habitual, ajudando em muito no clima mais intimista e quase de cumplicidade que o cantor e sua incrível banda conseguiram criar nessa noite.De cara Gregory Porter mostrou suas credenciais nas canções “Holding On” (esperto cover do Disclosure), “On My Way to Harlem” e “Take Me to the Alley”, onde com muita técnica e feeling apurado, impressionou a todos, abusando da simpatia nas conversas com o público.
O cantor e compositor logo disse que se sentia num clube do Harlem ao tocar por aqui, e na sequencia chamou a atenção de todos para as pessoas desafortunadas que habitam São Paulo e todas as cidades grandes do mundo… foi emocionante.
Gregory é um talento e figura ímpar, demorou para chamar atenção no meio musical, mas assim que foi descoberto já ganhou espaço junto à crítica e público, tendo conquistado os Grammy´s como Best Jazz Vocal Album, com os álbuns Liquid Spirit (2014) e Take Me to the Alley (2016).
Sua performance acabou sendo uma verdadeira aula sobre black music, já que apesar de ser um sofisticado cantor de jazz, capaz de se aventurar em improvisos em scat singing e navegar com facilidade em intrincadas harmonias, Porter é capaz de citar Marvin Gaye, Stevie Wonder, James Brown… e interpretar com muito estilo clássicos do R&B.Assim, a apresentação se deu de forma solta, leve e divertida, que se enveredou pelo Gospel, Soul, Pop e Funk, sem deixar em nenhum momento sua alma jazzistica desaparecer.
Não é coincidência que tenha acabado de lançar o álbum Nat King Cole & Me, onde recria com muito bom gosto canções clássicas como “Mona Lisa”, “Ballerina”, “Smile”, “Nature Boy” e “Quizas, Quizas, Quizas”, mas o novo repertório não fez parte da apresentação dessa noite.
Seus acompanhantes de palco são todos brilhantes, com destaque para o pianista Chip Crawford e o saxofonista Tivon Pennicott, que mostraram perfeita sintonia ao intercalarem solos inspirados ao longo de toda noite, onde “sem vencedores” , cada um deu um show à parte.
Um grupo como esse só podia ter uma cozinha perfeita, com o baterista Emanuel Harrold quebrando tudo e garantindo a coesão de todo show, e que junto ao soberbo baixista Jahmal Nichols, tiveram um dos pontos altos da noite, com Jahmal em super solo, abusando dos Slaps em super levada funky , onde citou até Come Together dos Beatles.No fim do show, todos dançaram com o balanço de “Papa Was a Rollin’ Stone” (sonzeira cheia de soul consagrada com os Temptations.), se impressionaram com a sofisticação de “Work Song” (cover do jazzista Nat Adderley), e se emocionaram com a espiritual “Free” – canção de autoria do próprio Gregory Porter que fechou a noite.
Vejam nossos vídeos com trechos do show de Sampa