Para o Blog e nossos parceiros de empreitada (Lado Bá, Da Rua Pra Rua, Crush em Hi-Fi e Hits Perdidos), a proposta de fazer um evento gratuito, aberto para todos e numa praça da cidade foi mesmo um desafio.
Foram diversas reuniões no Vi Shows HQ, conversas virtuais e por Skype, idas à Prefeitura Regional de Pinheiros, além de negociações com bandas, fornecedores, apoiadores e amigos, tudo para garantir um evento independente e relevante para a cidade, agregando tribos e com um clima de festa e confraternização.
Assim como um coletivo de idéias, o Punk Rock 77 foi tomando corpo, agregando boas sacadas de todos e contando com a escolha da Praça Horácio Sabino, próxima ao Metro Sumaré, como local para termos uma tarde dedicada à musica de qualidade.
O evento reuniu cinco bandas de rock alternativo de diferentes gerações e influências, mas todas ligadas de alguma forma aos movimentos punk e hardcore de São Paulo: os veteranos do Cólera, pioneiros no punk rock brasileiro desde o final dos anos 70; Asfixia Social, Miami Tiger, Porno Massacre e Wabi Sabi.
Nos shows os artistas trouxeram músicas autorais e também alguns covers em tributo aos grandes nomes do punk rock de 1977.
A discotecagem do festival foi feita pelo coletivo Feminine Hi Fi, produzido apenas por mulheres, que resgatou pra valer a cultura das festas jamaicanas com discotecagem em vinil que eram a trilha sonora das festas punks londrinas em 1977 e também nos sistemas de som da ilha caribenha na mesma época.
O coletivo feminista nasceu para combater a resistência contra mulheres na cena de reggae e dar espaço às DJs, rappers e cantoras na cultura sound system.
O grupo produz festas de música jamaicana de várias épocas, música brasileira atual com novos artistas, discotecagem em vinil e rimas de protesto. A maioria dos eventos é feita na rua de graça, incluindo locais da periferia de São Paulo, interior do Estado e participações em festivais em todo o país.
No Punk Rock 77, animaram o evento, abrindo os trabalhos por volta das 14hrs, mandando direto vinis clássicos do Dub e Reggae, preparando o clima para a festa e mantendo as vibrações positivas com intervenções entre cada um dos shows.
A banda paulistana de nome japonês é um projeto solo e autoral de Bá Monteiro, jornalista e musicista envolvida com o movimento punk e hardcore desde 2002. A vocalista e guitarrista gravou seu primeiro EP em 2014, engavetou o projeto e agora retoma com nova formação com Bá (guitarras e voz), Dinho (guitarras), Felipe (bateria) e Fernando (baixo).
No festival, a banda mandou sons próprios e clássicos do The Clash e Blondie, mostrando muita personalidade nas versões e intensidade nas canções autorais, dando o tom roqueiro necessário para rolar a tarde musical tão esperada, já agregando ao público todos que estavam curtindo a tarde na Praça Horácio Sabino.
O grupo, que já tem quase uma década, foi criado com inspiração em filmes de exploitation – gênero alternativo que teve seu auge nos anos 60 e 70 e que explorava muitas cenas de sexo, drogas e violência.
A banda mistura estilos em seu som, indo do rock punk e glam ao jazz e rockabilly e forte identidade visual inspirada em grandes artistas dos anos 70, como New York Dolls e The Cramps.
No festival Punk Rock 77 detonaram, com vibrante apresentação dividida em atos, onde mataram o pato da FIESP, mandaram petardos próprios e encarnaram os Sex Pistols em versões cheias de fúria.
Ao vivo o Porno Massacre se garante, com postura teatral, anárquica e altamente sexualizada, se destacaram na interação com a audiência e pela presença, que incluiu figurinos originais para cada integrante e total entrega na performance dos músicos e do vocalista General Sade.
No meio da tarde, com a praça começando a ficar mais cheia, chegou a hora do Miami Tiger, que com letras em Inglês e Português e um vocal muito expressivo da cantora Carox Gonçalves, ganhou a audiência em poucos minutos, apresentando as canções de seu primeiro EP, “Amblose” (2016).
Se destacou pela ótima banda que viajou entre rocks cheios de pegada bluseira, baladas energéticas e mensagens certeiras, lembrando do abuso e da violência contra a mulher, em canções como “Meu Lugar” e nas intervenções com o público entre as musicas.
Durante o show registramos em fotos e vídeos a reação do público e o clima de festa que tomou conta do Festival Punk Rock 77.
Já no final da tarde, o Asfixia Social entrou no palco para apresentar sua explosiva mistura de rap, punk, ska, dub, hardcore, jazz, reggae, funk e metal, com noite inspirada do vocalista Kaneda, que comandou as rimas e fez diversas intervenções e levadas de trompete e trombone.
A banda não ficou atrás, com o peso brutal da bateria de Rodrigo Silva e levadas inteligentes do baixo comandado por Leonardo Oliveira, o Asfixia Social mostra uma cozinha daquelas invejáveis, dando toda base para o guitarrista Rafael “Morello” Santos se destacar em riffs bem sacados e solos certeiros.
Como sempre acontece em suas apresentações, o grupo foi aos poucos ganhando o público, embalado pelas mensagem de cidadania e conscientização da banda, e pela intensidade da afiada apresentação, que mostrou o grupo pronto para lançar seu novo trabalho de inéditas, que teve algumas novas canções executadas no festival.
Vale ressaltar, que após o Asfixia Social, o clima estava perfeito para receber a última atração da noite. Muita gente na praça e clima de paz e confraternização. 100% para uma tarde de música num espaço privilegiado da cidade… e confesso que a expectativa para o gran finale era grande entre todos envolvidos no projeto.
Formada em 1979, a banda foi uma das pioneiras do punk rock no Brasil e é reconhecida no mundo todo como um dos grupos mais expressivos da cena, com letras politizadas e postura ativista, foi liderado pelo inesquecível Redson até seu falecimento em 2011.
Desde então, o Cólera conta com o jovem Wendel nos vocais, mantendo a pegada pacifista e ecologista que marcou o grupo em sua trajetória.
No festival, os veteranos tocaram em pouco mais de 1 hora canções de toda a carreira, criando verdadeira catarse com os fãs, que cantaram junto a maior parte das canções e confraternizaram com os músicos da banda durante toda a apresentação.
Atualmente o Cólera é formado pelos membros clássicos Val (Baixo e Voz) e Pierre (Bateria e Voz), que com o novo sangue de Fábio (Guitarras) e Wendel (Voz), comandam um dos shows mais autênticos e intensos no rock nacional, mostrando que a missão da banda continua, e que sua mensagem é nos dias de hoje mais necessária do que nunca.
Confiram nossa Playlist com mais de 60 vídeos de todas atrações do Punk Rock 77 e super galeria de fotos