A Mulher do Fim do Mundo com Elza Soares lava a alma com inteligência e música, em ano marcado por retrocessos, preconceito, machismo e intolerância.
Quem conhece Elza Soares de verdade, sabe o tamanho da sua arte e a força que a realidade de uma vida inteira de lutas dão a cada interpretação que faz, e no espetáculo “A mulher do fim do mundo”, que aconteceu nessa semana no Sesc Pinheiros, todos puderam conferir uma intérprete única, que brilha aos 79 anos em apresentações super bem produzidas e que a colocaram onde realmente merece.
Não existe outra artista na música popular como Elza Soares. Temos cantoras maravilhosas e candidatas a posto de diva aos montes… mas quem tem repertório e viveu a vida para ter a coragem de encarar um disco e show conceitual tão forte e inovador como Elza ?
A apresentação conta com sensacional cenário e direção de arte de Anna Turra, que coloca no centro de tudo Elza em toda sua força como rainha absoluta do palco, que como um terreiro atemporal liberta público, músicos e a própria cantora de toda simplificação que o Pop nos conforta diariamente.
As canções começam duras mesmo, numa “mpb pósrock do século 21” que busca novos caminhos e se arrisca em arranjos e formatos não ortodoxos de canções, mas apesar de certo “cabecismo” o show se eleva ao contar com um diva que brinca com a música e faz do samba uma plataforma para qualquer tipo de som ou estilo.
A força feminina de Elza Soares transforma o espetáculo numa apoteose criativa onde a música fala com a política e com todo universo feminino.
No show se vê de frente a realidade de nossos tempos, e Elza nos toca naquilo que mais comove o público, que é a capacidade artística em transcender e se transformar na voz e emoção de todos.
Foi assim num crescente que o show se mostrou, tendo ainda trunfos na interação perfeita com o público e na ótima participação do cantor Liniker, que mostrou voz e carisma como tem sido sua marca.
O todo do espetáculo valeu uma vida, e se não foi o melhor show que ví de nossa renomada diva, foi o que realmente a colocou onde merece, trazendo com inteligência a cantora para o século 21, imortalizando Elza num formato 100% atual.
O espetáculo voltou a São Paulo para marcar o lançamento em vinil do projeto “A Mulher do Fim do Mundo”, dirigido pelo produtor musical Guilherme Kastrup.
Ao vivo a cantora foi acompanhada por um time sensacional de músicos incluindo os metais do grupo paulista Bixiga 70 e super banda com Marcelo Cabral (baixo e teclados), Rodrigo Campos (guitarras), Kiko Dinucci (guitarras), Da Lua (Percussão) e o próprio Guilherme Kastrup (bateria e voz).
Em canções como “A Carne Negra”, “Do Cóccix até o Pescoço” e “Maria de Vila Matilde” também vimos inteligentes intervenções teatrais de jovens artistas e a própria intérprete provocando o público tanto ao afirmar sua negritude … “Eu sou negra, eu sou negra, eu sou negra!”, quanto sua condição de mulher … “Agora vamos falar de um assunto sério… se vai se arrepender de levantar a mão para mim… 180 minha gente, se liguem no número”.
O final do show foi emocionante, primeiro com músicos e atores ao redor da cantora numa versão impactante de “Comigo”, e em meio aos apupos da emocionada platéia veio o emblemático samba “Volta por cima” de Paulo Vanzolini e uma reprise de “Maria da Vila Matilde”, que seguramente deixou todos ainda conectados com Elza Soares e com o espetáculo por horas e horas.
[red_box]Viva a Eterna Elza Soares, e que seu brilho inspire nossa humanidade ![/red_box]