Agora que o disco “Massacre” do Made in Brazil, censurado pelo regime militar é finalmente lançado em vinil, aproveitamos para dar Play no Entrevistão Rock, sempre com convidados de responsa e com um mini vídeo para os fãs.
E ninguém melhor que um dos personagens que viveram o RockBr prá valer, criando singular história como banda e ainda na ativa prá mostrar no Rock – “A salvação”, como já dizia o clássico “Deus Salve o Rock Alivia”.
O ambiente não podia ser melhor, ao lado da Galeria do Rock, no velho Ponto Chic entrevistamos e filmamos a entrevista que o Blog compartilha com vocês, aproveitando o relançamento em vinil de Massacre que a Mafer Records promove em LP.
Com vocês o baixista, letrista, vocalista e líder do Made in Brazil, verdadeira instituição do rock brasileiro, Mr.Oswaldo Vecchione.
O álbum Massacre, proibido nos anos 70 pela Censura da Ditadura Militar, está sendo relançado agora em vinil, conte essa história e o que representou para vocês na época?
Era um período de ditadura, regime militar imperando aqui no Brasil em 1977, quando entramos no estúdio em que fizemos os 2 primeiros discos pela gravadora RCA Victor, que nos deu 120 horas no estúdio B, para fazermos a pré produção, e depois nos daria 300 horas no estúdio A que era o principal, para fazer o disco definitivo.
Mas essa segunda fase nunca rolou, então o que se tem hoje de material são justamente as gravações do estúdio B da fase inicial, então algumas falhas e impurezas e até mesmo erros estão presentes no som, já que o trabalho final e definitivo nunca aconteceu.
Mas prá entender, foi um trabalho na época em que a banda estava no auge, “Jack Estripador” de 1976 tinha vendido super bem, com quase 90.000 cópias segundo a gravadora, numa era em que sabíamos que pela falta de numeração e controle, esses números eram manipulados, tanto que até hoje aparece muita gente com as capas originais para autógrafos e afins, e sempre soubemos que foi muito maior a vendagem, mas infelizmente não se tem como provar, mas eram shows seguidos com apresentações lotadas em todas cidades.
Sabíamos que era possível continuar com o sucesso da turnê e aproveitar mais o retorno do disco, mas estávamos inquietos querendo compor e desovar o novo material, pois existiam de 16 a 18 músicas prontas, então nosso lance era entrar no estúdio e gravar esse material.
E assim rolou, foram 16 sons, só que a censura atrapalhou tudo, já que enquanto estávamos no estúdio, a gravadora recebia o nome das musicas, autores e todas as letras datilografadas para repassar aos censores, e de imediato a ditadura proibiu 9 canções das 16, só que já estávamos finalizando a gravação em estúdio, e a RCA Victor com medo de sofrer alguma sanção mais séria abortou o projeto.
O registro que tenho são dessas gravações do estúdio B, só que já estávamos montando um novo show para o álbum Massacre, alugando por duas semanas o Teatro Aquarius, ali na Rui Barbosa no Bexiga com 1200 lugares.
No dia da estréia numa quinta-feira, me liga desesperado o dono do teatro, pois o Dops, a Censura e a Polícia Federal foram lá fecharam e lacraram o espaço, de quebra interditaram a rua, e apreenderam todo nosso equipamento.
Nessa época tínhamos investido uma fortuna no show, pois as bandas nos anos 70 tinham que ter sua própria estrutura, diferente de hoje onde em todo o Brasil se pode viajar e o promotor local aluga todo equipamento.
… eles fecharam toda rua, não se podia passar nem a pé e nem de carro, e nas quadras em volta botaram diversos camburões de forma bem ostensiva, com aqueles brucutus da época da ditadura.
Mas olha só o que era o “Massacre”. A capa do disco era e ainda é a arte de um Tanque de guerra, esmagando a palavra Massacre… E os caras ficaram apavorados, já que em plena repressão colocamos do centro até a periferia mais de 7000 cartazes com a arte do álbum e divulgando os shows. Tudo feito numa Blitz… literalmente de um dia pro outro, pegando os caras da repressão de surpresa.
Mas se você for ver, hoje em dia eu dou risada, mas na época a gente vivia disso, com uma equipe técnica enorme, e de repente os caras confiscam todo equipamento, com o Made in Brazil correndo sério risco de tomar um processo e ainda ir em cana.
Era sério pois sem liberar a parte técnica, estaríamos ferrados e sem condições de voltar a trabalhar, nem mesmo com a produção do disco anterior.
Foi um puta stress, a banda “era também os caras do som, iluminação, palco e camarim”, com todos integrantes do grupo e todo um staff dependendo financeiramente do Made.
O show inicialmente foi proibido e tivemos que negociar com os caras, cheguei lá e o Altair Lima – um dos donos do teatro, estava apavorado, branco de lábio roxo de medo, dizendo que precisávamos dar um jeito, que a Polícia havia lacrado o teatro proibindo até as peças infantis que rolariam de manhã… e que eu precisava resolver e tal, para não prejudicar ainda mais gente.
Daí nós passamos a quinta e sexta em duas reuniões terríveis, negociando com a censura até que eles autorizassem o show, mas antes tivemos que tocar o espetáculo na íntegra com o teatro fechado para apenas 3 censores, tendo que suprimir é claro as canções censuradas, e com eles dizendo claramente que se tocássemos alguma das 9 proibidas não haveria show.
Como já existia o tour “Banana” , e o show “Jack” e mais aquelas seleções de rock do início de nosso repertório, e acabamos dando um jeito.
Mas os caras implicaram mesmo, a gente tinha como cenário um tanque de guerra, e o baterista tocava em cima desse tanque, todo azul com estrelas brancas, e por ordem da censura tivemos que pintar o tanque de branco e diminuir o canhão de 2,5 metros por 1,20 metros… ou seja… acabamos cerrando o canhão.
Tanque e Luminoso – MassacreDepois proibiram todos os efeitos que tínhamos comprado, explosões, fogos de artifícios e até mesmo o gelo seco. A regra era tudo que fizesse fumaça estava proibido, junto com o Tanque de Guerra, tínhamos um luminoso novo de 5 metros com 1,60 de altura, preto com a palavra MADE em amarelo e lâmpadas amarelas no meio das letras piscando, e foi liberado desde que não piscasse mais… ou seja ou deixava apagado, ou ficava acesso o show todo.
Falando assim você tá dando risada… tudo bem… mas imagina como é uma situação ridícula a cabeça dos caras… agora você imagina isso numa época onde eu acabava de ter casado, com filho pequeno em casa, tendo que pagar aluguel, comprar Leite Ninho, com o risco de ficar sem o equipamento, e com a Ditadura nos pressionando a aceitar aquela situação.
Pressão total pois se fizéssemos esse show teste e não fosse aprovado, seríamos processados, e ficaríamos sem o equipamento.
A Folha de São Paulo fez uma matéria mostrando a situação do show após a liberação, pois no Sábado quando a apresentação pode acontecer (já que tínhamos pintado o tanque de branco e perdido toda grana do gelo seco e efeitos especiais), foi bizarrro, com a repórter dizendo que foi o show de rock mais estranho do mundo, com tanta polícia presente, sendo a maioria infiltrada no público, prendendo quem levantava prá dançar, levando gente na platéia em cana na hora mesmo.
Até uma menina mais rebelde que vendo isso ficou pelada no meio do público, sendo presa na hora, mas voltando no dia seguinte para a repetição completa da cena, e a polícia feminina lá revistando as meninas e mandando todas que podiam ou se revoltavam presas, imagine o DOPS no show do Made in Brasil cara… sem sentido.
A idéia do show, com a concepção artística do tanque com a bateria, era tão legal que apareceu depois nos shows do KISS, cinco anos antes do KISS Army, e na maquiagem também fomos pioneiros. Digo no uso da maquiagem artística, não do tipo do Ney Matogrosso com o blush, rimel, batom… e sim uma coisa mais circense / teatral, isso em 1969, até os Secos e Molhados copiarem isso em 1973 um pouco antes do KISS, que se você for ver a primeira roupa do Gene Simmons, era baseada no traje do Cornélius, com bota de pirata bucaneiro, a capa de couro com asa de morcego, tudo copiado do guarda roupa do nosso vocalista.
A estrela da maquiagem do Paul Stanley também é igualzinha a que eu usei em 1969 e 70, com a diferença da nossa ser branca com a estrela roxa e a do KISS Branca e Preta.
O Made in Brazil sempre teve esse lance com as artes plásticas, como foi o envolvimento de vocês com o Antonio Peticov através dos Mutantes ?
O Made sempre teve uma grande amizade com Os Mutantes, e meu irmão era muito amigo do Serginho e do Arnaldo, e num ensaio deles conhecemos o Peticov.
Entre as bandas rolava uma super colaboração, o irmão deles o Claudio fez diversos instrumentos e equipamentos, e a gente comprou muita coisa dele, pedais, distorção, umas caixas gigantes para baixo, mas meu pai quando se empolgou conosco foi numa loja em São Paulo e comprou dois amplificadores Gianinni e um Phelpa para baixo, e emprestávamos essa infraestrutura para Os Mutantes que os usaram em diversos shows.
Como contrapartida o Serginho (Dias) ia em casa, ajudava a organizar os ensaios, participando ativamente dos primeiros, e o Arnaldo as vezes sentava com o Cornélius para ouvir os sons de fora e tirar juntos as letras para que pudéssemos cantar, e então rolava mesmo essa colaboração e amizade entre o Made in Brazil e Os Mutantes.
Assim acabamos conhecendo o Peticov na casa deles (Os Mutantes), ele ia inaugurar uma loja na Rua Augusta e me chamou para trabalhar com ele, meu irmão também trabalhou lá por um tempo, e eu fiquei o período todo que durou a loja, inclusive minha primeira mulher também trabalhou lá, era uma loja de dois andares e a Regina cuidava de um andar e eu de outro.
Na época o Peticov já era um agitador cultural, além de ser artista plástico, organizava festivais, como no auditório da Folha de São Paulo, e até a primeira experiência com Luz Negra dele rolou com o Made in Brazil. Foi numa apresentação em Santo André com mais de 20.000 pessoas, os 05 últimos artistas eram Erasmo Carlos, Jorge Ben, Wanderléia, Made in Brazil e Roberto Carlos fechando a noite.
Mas na hora do Made apagou a luz do ginásio, e o Peticov tinha conseguido duas luzes negras de barra, e descolado com a Acrilex americana, alguns vidrinhos e amostras grátis de tinta, e com os problemas na luz o que ele fez… pintou a banda toda, até as baquetas da bateria, rostos, mãos e no meu irmão desenhou labaredas no peito.
E foi uma loucura, com o reflexo nos olhos, dentes e na roupa de quem estava de branco, sendo a primeira vez que as pessoas viam isso na vida, muito doido cara, era ainda em 1968, início da banda, com esse tipo de experiência abrindo muito nossa cabeça na época, onde tudo ainda estava começando para todos nós.
Como era a cena roqueira no fim dos anos 60 em São Paulo e no bairro da Pompéia ? Que tribos e bandas podem ser destacadas ?
O Made é originário da Pompéia, montamos a banda em 67 com meu irmão Celso, e três amigos de escola, o batera Celso Cebolinha já tinha feito o ginásio comigo, eu já estava cursando o científico (2•grau) no Colégio Oswaldo Cruz e conhecí o baixista e o Cornélius nosso primeiro vocalista, então montamos o Made com esses amigos de escola.
Eu sei que existiam bairros na cidade sem nenhuma banda de rock, mas na Pompéia sinceramente nunca soube o motivo, o rock era muita coisa meio que comum, existiam muitas bandas, e algumas ficaram bem famosas como Os Mutantes, Tutti Frutti depois com a Rita Lee, o Arnaldo Baptista também pós Mutantes quando montou o Patrulha do Espaço.
Então era mesmo um bairro bem roqueiro, só para ter uma idéia em 1967 num Sábado fui levar um documento para o antigo colégio antes do ensaio do Made in Brazil (que eram Sábados e Domingos), e voltando a pé encontrei no caminho outros 07 ensaios de bandas rolando em somente 10 quadras da Pompéia, todas fazendo muito barulho, e o Made ainda ia começar seu ensaio e eu nem tinha passado em frente à casa dos irmãos Baptista onde Os Mutantes também deviam estar tocando na mesma hora.
[red_box]Era um bairro realmente muito rock and roll[/red_box]
Era a época da Invasão Britânica, que influenciavam as bandas do mundo todo e também em São Paulo, movimento onde despontou os Beatles, Stones, The Animals, Yardbirds, Kinks, Dave Clark Five e muitos outros, sendo que essa invasão inglesa dava base para o repertório de covers de todas essas bandas do bairro.
No caso do Made in Brazil, uma curiosidade era que através do vocalista Cornélius que manjava um pouco de italiano, e eu e meu irmão que também tínhamos essa influência familiar, começamos a correr atrás de discos de bandas italianas, então no repertório de ´67 com 60 a 70 músicas, umas 10 eram cantadas em italiano, então tinha esse diferencial. Por exemplo Os Incríveis chegaram a gravar “Era um garoto que como eu amava os Beatles e os Rolling Stones” em português numa versão, quando nós já cantávamos a mesma música no original em italiano.
Alguns super guitarristas foram formados nos anos 70 e se destacaram tanto no Made, como em outras bandas. Quais Guitar Heroes nacionais dos anos 70 são seus preferidos ?
Aqui no Brasil… pelo Made passaram mais de 100 músicos… mais exatamente 104… muitos fizeram história conosco e depois em outras bandas, a gente teve o Wander Taffo tocando no fim dos anos 70 e que participou também do disco Massacre, que foi gravado com 3 formações, e o Taffo participou de uma das formações… eram 3 guitarristas, 3 bateristas, 3 cantores, 3 bandas totalmente diferentes. Também destaco o Tony Babalu, alguns músicos argentinos feras como o Eduardo de Pose, que tocou e gravou conosco, também o Natcho Smirale, e o Tony Osanah, o americano Breack Heffener no tour do Paulicéia Desvairada e músicos brasileiros diversos como o Joaquim “Kim” Kehl que tem a banda os Curandeiros e vários músicos que depois formaram outras bandas.
O Made já passou por várias fases, indo do Rock and Roll, para o Metal e chegando atualmente a uma sonoridade que me lembra mais o Blues e o Rhythm´Blues. Como você vê a banda em cada uma dessas fases ?
Acho mais ou menos isso, por que na verdade já começamos como uma banda focada no Rhythm´n’Blues, seguindo a linha dos Stones, Animals e Yardbirds que são nossas grandes influencias, fazendo aquela transição do Rock and Roll, Blues tradicional e no meio o Rhythm´Blues, que não era a praia dos Beatles, que foi uma grande banda de rock e depois foi para o psicodelismo, e pouco entraram num lance de blues, só passando ao largo pelo estilo. Diferente da dedicação dos Stones por exemplo, e foi essa linha musical e visual deles que nos influenciou.
Assim começamos como uma banda de Blues, que tocava Rock e Blues, e o público que começou a prestigiar a banda, foi sem dúvida os fãs de Rock, então de forma natural começamos a dirigir o repertório para o estilo mais roqueiro, e menos para a pegada bluseira.
Já nos anos 80, percebemos a força do Heavy Metal que vinha como uma onda de fora, e como éramos especializados no Hard Rock com uma pegada pesada, sempre com muito peso na cozinha comigo e o Ricardo Felini que gravou Jack Estripador.
Talvez a gente tenha feito na época a base mais heavy do rock nacional, já que ninguém tinha esse peso, o Felini era um demolidor de baterias, e todo ano a GOPE nos dava um Kit novo, e ajudava na manutenção do equipamento, que sofria com o peso que rolava…. com essa facilidade o Felini quebrava a bateria todo fim de semana e ela na segunda ia para a fábrica a tempo de voltar zerada para o próximo show.
Eu também tocava de maneira desvairada com muita fúria, por anos com duas caixas com 8 falantes de 15´´, que hoje em dia seria um absurdo, e era mesmo uma parede de sonora, e juntos sempre foi muito forte, então já existia esse peso quando nos anos 80 a gente percebeu que estava vindo um som mais pesado ainda do que o Hard Rock, que era o Heavy Metal, então entre 1983 e a segunda metade da década tivemos esse flerte com o estilo, querendo trazer esse som para o Brasil.
Massacre Made in Brazil 70’sE sem dúvida fomos um dos pioneiros desse movimento, mas sem deixar nunca o blues, o hard rock, rhythm´blues e o rock and roll de lado… eles sempre estavam lá no repertório as vezes um pouco mais, outras vezes um pouco menos presentes.
E hoje em dia estamos resgatando a sonoridade do início da banda, voltando a ser uma banda de Rhythm´Blues como principal identidade.
O Made in Brazil é conhecido pela quantidade de diferentes músicos que já passaram oficialmente pela banda. Qual a última estatística ?
Foram 104 músicos oficiais, que tocaram em shows, álbuns e turnês, e dezenas que fizeram participações especiais em álbuns e shows.
Em termos de Guinness Book, estamos pleiteando duas inclusões no Livro dos Recordes, como a Banda com o maior número de músicos profissionais, e a banda com o maior número de formações, são no total 196 formações oficiais, já que tivemos músicos que participaram em diferentes épocas e contribuíram com diversas formações.
O ambiente da Censura nos anos 70, também era um desafio criativo para os Compositores. Vocês pensavam nos censores na época de compor ?
No primeiro disco não nos preocupamos, rolou da forma como pensamos, mas sofremos a consequência com 4 a 5 músicas proibidas que não entraram no primeiro disco, e teve canções que conseguimos mudando título, ou algumas palavras, encaixar no segundo ou terceiro álbum.
Então vimos que tínhamos que tentar burlar essa censura, buscar uma maneira de mascarar, fazer com que a coisa rolasse sem dar muito na cara, usando muita ironia, muito duplo sentido em cima do que queríamos dizer nas letras. Em especial eu que sou o principal letrista passei a ter esse cuidado, já que não adiantava nada ter um som pronto e ensaiado, mas que não podia ser gravado.
Sempre fomos práticos, não era mais a época dos covers, com o tempo os álbuns eram a base do nosso repertório, podendo ainda entrar algum cover ou versão, mas quando a coisa ficou profissional não tinha muito espaço para esses sons dos ingleses e pioneiros americanos, e na época do terceiro trabalho de estúdio, já tínhamos uma sonoridade e identidade, onde o fã logo de cara já reconhecia o Made ao ouvir no rádio ou na casa de um amigo. Mesmo com as trocas de cantores e solistas, era o Made in Brazil e a galera reconhecia a identidade musical que tínhamos e mantemos até hoje, isso é o que nos faz permanecer na estrada por tantos anos.
Quando penso no Made in Brazil em relação ao rock feito no planeta, me lembro em especial de 2 bandas, os ingleses do Status Quo, e os Mexicanos do El Tri, tanto pela sonoridade quanto pela longevidade. Você se identifica com essas ou que outras bandas ?
Poxa o Status Quo é legal, tem aquela história das 3 notas exatamente como o Made in Brazil, já o El Tri ouvi algumas coisas, mas confesso não conhecer muito ou ter o disco, mas você não é a primeira pessoa que fala dessa semelhança do som dos caras e o nosso.
Já na Argentina tem os Ratones, Ratones Paranóicos que eu gosto porque é Chuck Berry elevado ao extremo, como também são o Status Quo e os Stones.
O Made tenta também ser um Chuck Berry no Brasil, essa história do Rock ser alegria, Rock prá dançar, prá não ficar parado, rock sem frescura como dizia o Ezequiel Neves.
Que lugar o Rock ocupa hoje no universo da música brasileira… Após tantas décadas, tem o espaço merecido na mídia ?
Na verdade no Brasil a mídia nunca se abriu para o Rock, só nos anos 80, e nunca teve o espaço que deveria ter.
No Brasil o rock teve aquela fase dos anos 50 com Sérgio Murilo, Tony Campelo, Celly Campelo, Ronnie Cord, Demétrius, bandas como Jet Black, os Bells, Os Incríveis antes The Clevers, os Jordans… mas não tinha aquela coisa de ideologia, eram mais focados no pop, assim como a Jovem Guarda sempre foi meio Beatles com pegada pop.
O rock surgiu com sua ideologia somente com a geração dos anos 70, nossa geração trouxe a ideologia não só da música mas da atitude, essa geração mais do início tem super mérito, mas o lance era diferente, não se vestiam como roqueiros, acabavam se dedicando a outros ritmos.
Já conosco, com Os Mutantes, Rita Lee com Tutti Frutti, O Terço, claramente tínhamos essa ideologia junto à musicalidade, e um modo de vida agregado ao nosso ser… porra eu sou roqueiro de manhã e também à meia noite, tento escutar pelo menos 3 discos por dia, ouvindo hoje em dia muito blues e soul como sempre.
Acho que essa coisa de que o rock aqui não está em alta, reflete o que lá fora também acontece, não temos uma real renovação, a última banda legal de rock que surgiu na minha opinião já tem mais de 25/30 anos que são os Black Crowes, aquele movimento grunge não curto muito, mas já está lá atrás, mas é um caminho para ouvir rock e chegar em outras coisas.
Nos últimos anos teve aquela moda de meter o pau no Restart, pô tenho uma neta que tem 16 anos e começou a ouvir o grupo, e eu acho que eles podem não ser a melhor banda ou fazer minha cabeça, não ter uma ideologia, mas é rock, pode ser rock pop, mas graças a deus ela foi ouvir isso.
Hoje nem ouve mais, mas é um caminho para o rock e não para o sertanejo ou para o pagode, e mesmo gostando de poucas coisas que essas bandas fazem, eles tem todo meu respeito, estão batalhando e tentando fazer, ensaiando, gravando, compondo, entrando em onibus e aviões para tocar em todo pais, e é claro levando uma vida roqueira, isse é o importante… levar uma vida rock and roll.
Confiram nosso vídeo, no melhor estilo com Oswaldo Vecchione falando sobre a Vida Rock and Roll