Uma conversa com os The Courettes, registrando o tour do grupo entre Alemanha e Dinamarca
Eu cruzei com os The Courettes em 2015, quando o single “Go, Go, Go” do álbum Here Are the Courettes!, ficou na minha mente por semanas e semanas, se tornando uma das canções que mais ouvi no ano.
[blue_box]A banda de lá pra cá, lançou os singles “Boom! Dynamite!” (2016) e “Hoodoo Hop” (2018), um álbum ao vivo, “Alive from Tambourine Studios” (2017), e no ano passado, o ótimo álbum “We Are The Courettes”, que entrou em diversas listas de melhores do ano.[/blue_box]
Aqui no blog o grupo apareceu em destaque com a canção, “Time is Ticking”, entrando entre os 20 melhores sons nacionais de 2018, quando descrevi a dupla brasileira / dinamarquesa como uma banda de garagem e história de amor.
A origem da banda é um dos destaques da entrevista gentilmente cedida pelo nosso parceiro, Janne Vuorela, que direto de Berlim, nos enviou de presente essa oportunidade de mergulhar nesse momento da banda.
Desse ótimo trabalho, destacamos os principais trechos abaixo, junto com a recomendação de curtí-lo na íntegra, afinal, além do bate papo, o vídeo mostra a dupla rodando em lojas vintage e trechos de shows na Alemanha e Dinamarca.
Os The Courettes, são Flávia Couri (voz e guitarras – ex.Autoramas, China, Sugarstar, Elepê, Doidivanas e Lingerie Underground), e o batera dinamarquês Martin Couri, que conheceu Flávia abrindo shows dos Autoramas mundo afora.
O romance evoluiu e Martin acabou importando Flávia para um projeto de vida rocker, que já rendeu um filho e uma super banda, que por sinal, conquista cada vez mais espaço, e coleciona ótimas críticas.
COMO A MÚSICA ENTROU EM SUA VIDA ?
Martin: Sempre adorei bater nas coisas, e já toquei em várias bandas de garagem nesses 20 anos de experiência.
Flávia: Ainda na adolescência fui tocar baixo, violão, xilofone… tudo numa paixão por Beatles, tanto que meu instrumento mesmo é o baixo, por onde entrei em diversas bandas… claro, que com os Autoramas foi legal, e acabei conhecendo o Martin, que tocou no Brasil abrindo nossos shows.
E OS COURETTES !!??
F: O mais legal é poder ter assim uma história de amor e também um modo de vida, até porque hoje já sei que a coisa mais valiosa da vida é tempo… e nós fazemos o que amamos como projeto de vida.
No começo, eu ficava horas e horas em voos entre Copenhagen e o Rio, o que me inspirou a fazer canções falando dessa história e desse encontro, até tentamos montar a banda com outros músicos, mas a conexão era muito nossa, então surgiu o desafio de montar os The Courettes, e fazer todo som que imaginávamos somente com 2 instrumentos.
Foi rápido, pois já em nosso primeiro show pintou a chance de gravar um álbum, e logo gravamos e lançamos, com bons reviews, que nos levaram a tocar por toda europa.
DESIGN RETRO – GARAGE ROCK – LOVE
Courettes: Em visita à Vintage Gallery, em Hamburgo, a banda fala de seu amor por moda, design, arquitetura e de relacionado ao final dos anos 60 e início dos anos 70, quando tudo girava em torno do espaço, afinal o homem havia recém pousado na Lua, e as tendências apontavam para o futuro.
Vendo isso hoje, como uma tendência retrô, uma saudade desse passado futurista, o retrofuturismo, que nos passa sempre uma emoção, pelo uso das formas plásticas cheias de curvas e de cores fortes.
M: A música dos 60´s foi a melhor, com as Girl´s groups, The Doors, Beatles, singles de 7 polegadas que minha mãe tinha em casa… também os Rolling Stones, Kinks, Sonics…. uma lembrança dessa infância, com referências atuais, é o que mais gosto de ouvir, é puro, de coração e sem efeito falsos, sempre com músicos de verdade, espontaneidade e energia na entrega das emoções
F: Eu acho as gravações atuais muito limpas, sem a atitude que move o rock. Nós gostamos de gravar tudo junto, sem muito overdubs, fazendo a gravação quase ao vivo, afinal nos anos 60 era assim e os discos da época soam bem ainda hoje. Mas claro que ouço sons mais atuais, mas a maioria fica mesmo no início dos 2000.
Tomara que o rock volte de fato, que as pessoas mudem de mentalidade, pois tem muita coisa idiota no mundo atual, com as rádios só tocando merda, música de merda, estúpida e que soa mal.
C: Mas o rock vai voltar, e será com coisas que valham à pena, afinal a música e arte se renovam em ciclos, e acho que já chegou na hora de sons legais e novos aparecerem e resgatarem o rock.
O rock é sobre ser você mesmo, respeitar os outros e a diferenças, precisamos mais do que nunca de uma renascença do estilo, o mundo precisa disso.
NOVO ÁLBUM – WE ARE THE COURETTES
C: Nesse nosso segundo álbum, nos preocupamos em manter o espírito ao vivo, mas com pequenos overdubs, umas harmonias vocais, pianos e tal.
Ficou ainda com a cara garage que queríamos, mas com mais detalhes do que o primeiro, mostrando a forte influência dos anos 60, em especial com a sonoridade das Girls Groups da época.
M: Achamos legal que esteja sendo bem recebido, mostrando que o rock sempre será relevante, ajudando na resistência contra esse mundo estúpido, da mesmice do Spotify, das músicas ruins nas rádios.
Só a arte tem grandes chances de contar histórias e passar mensagens que duram e resistem ao tempo, e quando se faz um álbum novo, ele registra uma época e dura muito mais do que hoje se enxerga com a digitalização do consumo da música.
F: Acho que toda mídia é boa pra música, não precisamos entrar naquele lance dos anos 90, quando o CD foi vendido como o fim do Disco de Vinil, foi uma ideia errada, não se precisa abandonar um meio para entrarmos em num novo.
O Spotify é OK pra mim, claro que prefiro o vinil, até porque seu que vai durar, como produto é muito melhor, tem uma série de informações… quem gravou, técnicos, letras e capas com ilustrações.
Só não entendo quando os jovens falam que ouvem tipo Spotify, ninguém ouve isso, eu nunca ouvi Fitas Cassetes ou Gradiente…. eu ouvia música, acho importante o digital para se descobrir novos sons e depois ir atrás de coisas reais e físicas como o vinil.
Nós acreditamos nesse caminho, e sempre vendemos bem nossos vinis no shows, quando temos espaço para mostrar nossas emoções, com os erros e acertos reais do ao vivo, afinal o rock também serve pra isso, para transcender, suar, e se divertir, entregando a alma e ideias nos shows.
SER MÚSICO / ROCK EM FAMÍLIA / TOURS
M: Claro que é melhor do que um trampo tradicional, mas é um trabalho duro, sem muito descanso, pois em tour todo dia é diferente, novos palcos, cidades e públicos… e nossa banda dirige muito mesmo, muitas vezes com 13 horas dirigindo, chegando numa cidade e indo direto ao show.
F: Fora a saudade da família, do filho agora, mas é legal dirigir nossa van, tocar ora na Finlândia, França, Alemanha e Espanha. Mas como preferimos ir de carro, curtindo a aventura em estilo meio “camping /auto house”, podendo levar junto a família, já que a Van tem todas as coisas básicas para viver na estrada. Temos planos de um grande tour com a família quando nosso filho for mais velho.
É sempre uma grande aventura, há 2 anos, em Hamburgo, no Riverbank Festival,tínhamos um show oficial no evento, mas montamos um show na rua, tocando na varanda, sem permissão nem nada, claro que deu confusão, veio a polícia, que no início queria parar a apresentação, mas como a cidade é incrível, no fim o policial fechou a rua para o show, o que foi muito legal mesmo.
Lembro de estar grávida nesse, numa turnê com 25 shows de barrigão, e que foi divertida, pois o bebê chegou antes do previsto, nasceu numa sexta, e tínhamos show já no Sábado.
Iríamos cancelar mas depois que tive o nenê, me senti tão bem que no dia seguinte, ligamos re confirmando o show, os donos não acreditavam, mas depois falaram, se você está bem, acho ótimo !! Vai lá e toca !! Vai ser ótimo !!
Estava ainda meio medicada, então não lembro todos detalhes, mas foi legal… sabe, nunca cancelamos nenhum show, nem esse logo que tive o bebê.
AMBIÇÃO
F: O próximo passo acho que é continuar o que estamos fazendo, tocar melhor, para mais gente, criar álbuns mais legais, ir além do mundo garage. Eu gosto de ver o mundo como se fosse um jogo de WAR, abrir espaços e ir onde nunca fomos antes.
M: Aproveitar para ganhar mais grana, comprar melhores carros e instrumentos, e claro viajar mais.