A história de Charly Garcia + Playlist (em Mitos do Rock Argentino)
Ainda na adolescência, Charly Garcia foi o primeiro roqueiro argentino que escutei, e apesar de ter curtido muito, deu trabalho compreender a sonoridade da sua fase progressiva, já que não estava iniciado no estilo e confesso que somente quando ouvi Yes e o Genesis (na fase Peter Gabriel) entendi bem melhor o cara.
Confesso que na época o que me chamou mais a atenção foi mesmo a imagem rebelde, visual cabeludo e o “loco” bigode bicolor.
Na zona norte de Buenos Aires, durante a segunda metade dos anos 60, o jovem Charly Garcia já mostrava sua inquietude e embalado pela explosão do rock na Argentina, agitava shows juvenis nos colégios da região. Foi assim que turmas se misturaram e em parceria com o cantor e violonista Nito Mestre criou o primeiro grande mito do RockAr – Sui Generis.
A banda teve enorme destaque com seu álbum de estreia – Vida (1972), produzido por Billy Bond, e que num folk rock psicodélico de primeira apresentou o bardo ao planeta rock, em canções como “Amigo vuelve a casa pronto” e “Canción para mi muerte”, essa úlima retratada abaixo em 1972 ao vivo na capital platina no vídeo abaixo.
Sui generis – Cancion para mi muerte
O grupo até hoje é campeão de vendas tanto com esse álbum como com os subsequentes, que mais orientados ao rock progressivo os levaram ao sucesso e a problemas com a censura durante os anos 70.
Sui Generis – Eiti Leda
Nesse meio tempo, também gravou um álbum chamado PorSuiGieco, que lançado em 1976 registrou a parceria folk de turnés que rolaram à partir de 1974 envolvendo Charly García, Raúl Porchetto, Nito Mestre, León Gieco e Maria Rosa Yorio (esposa de Charly nos 70’s).
O batismo da banda vem da fusão da sigla de “Por” (Raul Porchetto), “Sui” (Sui Generis), “Gieco” (León Gieco), assim o “PorSuiGieco” surgiu e se dissolveu mesmo antes do lançamento do álbum, com García envolvido no projeto “La Máquina de Hacer Pájaros” – outro supergrupo com forte influência progressiva, e que nos efêmeros 2 anos na ativa, ganhou grande destaque, aumentando ainda mais o cacife do mito.
Com a piora da perseguição política da ditadura militar argentina, Charly veio buscar inspiração e liberdade numa temporada brasileira em Búzios (RJ) e São Paulo, onde com novos parceiros formou o bem sucedido Serú Girán.
Alem de Charly Garcia, o grupo contava com David Lebón(guitarras, voz, baixo e percussão), Pedro Aznar (baixo fretless, voz, guitarras, teclados), e Oscar Moro (bateria e percussão).
Ficaram juntos até 1983, lançando marcantes caanções na luta contra o autoritarismo local, incomodando reacionários e dando voz aos movimentos sociais como as mães da praça de maio.
Seru Girán – Canción de Alice en el país
Como banda, a principal característica do Serú Girán eram as letras e a combinação de estilos, eternizada em músicas como Seminare, Si me das tu amor, La grasa de las capitales, Canción de Alice en el país, Noche de perros, Desarma y Sangra, Autos jets aviones e barcos, Cinema Verité, Perro Andaluz, Frequencia Modulada, Canción de Hollywood … entre muitas outras.
A partir desse ponto, Charly Garcia já figura como força maior da música argentina, passando a se dedicar exclusivamente à sua carreira solo (apesar de alguns tour e revivals ocasionais de suas antigas formações), tocando com diversos músicos locais que posteriormente também se consagraram como Fito Paez e Andres Calamaro.
Nessa fase, sua polêmica personalidade iconoclasta , gerou diversos conflitos e sentimentos dúbios na sua relação com a sociedade local e não faltaram polêmicas e tretas em shows (meio Tim Maia mesmo… com som ruim ele não toca…), internações por abuso de drogas e declarações malucas sobre ele mesmo e outras personalidades locais e do rock internacional.
Sua qualidade artística e inquietação intelectual, já são parte da cultura argentina, marcando para sempre o cancioneiro local com seu tipo inconfundível.
Seus álbuns oitentistas são todos clássicos, vale mesmo a pena escutar um por um desse valioso catálogo: Yendo de la cama al living (1982), Clics modernos (1983), Piano bar (1984), Parte de la religión (1987) e Cómo conseguir chicas (1989).
Dos anos 90 em diante, manteve a mesma qualidade, mas com produção mais esparsa se destacando em especial a ópera rock La hija de la lágrima (1994), o estranho – El aguante (1998) e o super pop Influencia (2002).