Falco em 1995

O austríaco Falco foi pioneiro em apresentar a cultura HipHop para as audiências do “pop branco”, e ao fazê-lo originalmente em alemão, marcou sua entrada no panteão de ídolos pop dos anos 80, conseguindo ir muito além do sucesso europeu, conquistando o mundo com seus singles, até o sucesso massivo do electropop de “Rock me, Amadeus” na cola do premiado filme Amadeus, sobre a vida do genial compositor clássico Mozart.

Mas pouco antes nos anos 70, ainda com 2 Alemanhas e o fantasma da Segunda Guerra na esquina, nada era mais improvável que se ouvir música pop em alemão, até porque  seu maior representante o Kraftwerk, tinha um apelo mais vanguardista e minimalista do que pop, mas após a celebração de Berlim por David Bowie e Cia (em sua trilogia), a coisa começou mesmo a mudar, e na virada para os anos 80 além de sucesso local, artistas de diversas matizes apareceram se destacando no idioma teutônico.

[green_box]A lista é vasta, onde podemos destacar artistas como Nena (do mega hit – 99 Red Baloons), Nina Hagen (que deu benção para Supla em Garota de Berlin), Peter Schilling (do mega sucesso “Major Tom” em 1983), além do popmetal dos Scorpions e do gótico pós punk dos XMal Deutschland (quem não lembra da alternativa “Matador”), mas ninguém teve tantos hits na década do que Falco!! #fact[/green_box]

Durante os anos 70, Falco se misturou com a cena de Viena, enquanto estudava e experimentava com diversos estilos musicais, até se destacar no combo punk Drahdiwaberl em 1978, primeiro como baixista, até compor e cantar o até hoje “grande hit” da banda – “Ganz Wien”, que relata os mega abusos de drogas da sociedade local, confiram (ao vivo em 1979) :

Com o merecido destaque, partiu para a carreira como solista, lançando “Einzelhaft” (1982) que se destacou com o hit e o vídeo de “Der Kommissar”, que narrava uma noitada regada à black music e repleta de drogas e encontros policiais, e mesmo com a barreira do idioma, circulou da nascente MTV yankee para os programas de video clipes em todo mundo. Além do destaque do single, a canção foi regravada em inglês pela banda After the Fire (atingindo o top5 das paradas britânicas) .

Vejam Falco no vídeo de Der Kommissar som que fez parte até de trilha sonora de novela no Brasil (som que me conquistou na época e me apresentou ao músico)

[red_box]Na mesma época singles como Maschine brennt e Auf der Flucht mostravam Falco ganhando corpo em seu mix pop, onde as batidas do eurodisco encontravam as rimas inspiradas no RAP americano.[/red_box]

 

Em 1984 veio com tudo para criticar mais uma vez a sociedade européia e suas incongruências, e em meio a referências explícitas à David Bowie, manteve a forma,  se mostrando pronto para as massas em “Junge Römer”, que se não repetiu o sucesso do single anterior, manteve seu nome em evidência na cena.

Esse é daqueles sons que se na época não bombou, cresceu ao longo dos anos junto ao culto ao austríaco, confiram:

Já quando apareceu “Falco 3″ em 1985, a coisa fugiu de controle… logo de cara um mega super hit – Rock Me Amadeus, que virou número 1 em boa parte do planeta, com seu ótimo vídeo e aproveitando bem o sucesso do filme Amadeus de Milos Forman.

A canção foi resultado da busca frenética por um Top1 Hit, e sem medir esforços, colaborou com a dupla de compositores/produtores holandeses Bolland & Bolland, nascendo alí o hit que tornou Falco o único artista a ter um sucesso número 1 em alemão nos Estados Unidos, e que bombou nos dois lados do atlântico!!

Versão original !! Rock me, Amadeus!!

 

Mas como o próprio título do Post diz, Falco foi bem além de “Amadeus”, e mesmo não tendo nunca mais repetido o nível intercontinental de sucesso dessa época, conseguiu se manter relevante na Europa e manter viva a grande base de fãs que conquistou, bem longe de ser aquele artista de um sucesso só.

Ainda no álbum de 1985, dois singles se saíram muito bem, o primeiro deles – Vienna Calling foi número 1 em diversos países da Europa na mesma época, o outro, a polêmica Jeanny. Essa canção foi banida das rádios e TVs por representar Falco como um assassino e estuprador que remetia a um caso verídico, mas além da polêmica, também gerou um encantamento ao redor do tema, gerando outras duas canções – Coming Home (ou Jeanny Part 2) do álbum Emotional (1986) a póstuma The Spirit Never Dies (2009) no que se convencionou chamar de a Trilogia Jeanny.

No fim dos anos 80, lança “Wiener Blut” que se destaca apenas pelo ótimo cover de “Do It Again”, regravação do super sucesso de 1972 do Steely Dan, numa tentativa frustrada de repetir Rock me, Amadeus lança “Wiener Blut“, que mesmo com uma super produção, não empolgou os adeptos, mas ficou registrada em ótimo clipe!!

O figura fechou os anos 80 de forma discreta com o álbum e single Data de Groove (1990), que alcançou relativo sucesso na Áustria e Alemanha, e marcou uma guinada para um pop soul sofisticado que caracterizou a parte final se sua carreira. Selecionamos também dessa época o raro vídeo de Charisma Commando (1990).

Se no início dos anos 90 Falco estava mesmo em baixa, ao longo da década foi recuperando sua moral, ganhando reconhecimento como renovador da música européia, com sua criativa fusão de rock, funk, rap, eletrônica e música clássica, sempre com versos mordazes e batidas perfeitas.

Seu imenso ego e temperamento esquizofrenico, são bem retratados no filme “Falco – Verdammt Vir Leben Noch” escrito e dirigido pelo diretor “Thomas Roth”, com o ator e músico Manuel Rubey encarando bem a tarefa de representar a lenda.

No filme fica bem claro que se de um lado, Falco foi de fato o primeiro rapper branco, ele também antecipou a figura oitentista do yuppie, sem entretanto fazer parte de uma estratégia calculada de marketing. Vejam a crítica do filme no site do Deutsche Welle em português !

Em 1992 veio com o álbum “Natchflug” que agradou fãs mas se mostrou repetitivo em sons como  o single Titanic !!

Já em 1995, deixa de lado as tentativas de fazer um novo Amadeus e cai pesado na eletrônica no single “Mutter, der Mann mit dem Koks ist da”, para que no ano seguinte surgisse Naked , sons que mostraram bem o caminho a seguir, renovando o interesse de novas audiências por sua sonoridade.

Em 1998 lança seu último álbum – Out of the Dark (Into the Light), marcando seu melhor trabalho na década, com os singles EgoistNo time for Revolution (meu preferido) e Out of the Dark que ganhou as paradas na esteira da morte do músico, cantor, produtor e compositor no mesmo ano, em estranho acidente automobilístico aos 41 anos na República Dominicana.

Após sua morte, muitas coletâneas, vídeos inéditos e sobras de estúdio ganharam o mercado, consolidando sua força na história do europop, estilo que deve ao austríaco Falco a livre expressão e transito entre ritmos e melodias, entortando o “alemão pátrio” em rimas com a pegada direta e claramente inspiradas no nascente hiphop.

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