Com setlist matador, o show de encerramento da turnê de comemoração aos 30 anos de carreira comprova: Sepultura hoje é a banda de Andreas Kisser
No último sábado o Sepultura encerrou a turnê de comemoração dos 30 anos de carreira da banda na Audio Club, em São Paulo.
O show começou com 40 minutos de atraso, o que deixou muita gente impaciente. A apresentação foi registrada para um futuro DVD e antes de começar uma pessoa da equipe passou umas 3 vezes com uma câmera para filmar a galera gritando o nome da banda, fazendo chifrinhos com as mãos e coisas do tipo.
Quando o atraso já beirava os 30 minutos e o rapaz foi gravar pela 4ª vez, o pobre coitado foi recebido com palavras pouco amistosas e outros gestos com os dedos. O motivo do atraso não foi informado.
Enfim, 23h10 a banda sobe ao palco. A primeira constatação e mais óbvia que dá pra se fazer de cara, é que hoje o Sepultura é a banda do Andreas Kisser. Não que isso seja bom ou ruim, apenas é.
A Audio Club colocou um corredor no meio do público para a banda chegar mais perto da galera, o que acabou dividindo o lugar em dois. O lado que Andreas ia tocar estava muito mais cheio e empolgado que o lado do baixista Paulo Xisto. Quando a banda entrou, as pessoas de ovacionaram o guitarrista e o vocalista Derrick Green. Para os demais, apenas alguns aplausos.
Derrick é um cara adorado pelos fãs do Sepultura, tanto por seu talento vocal quanto pelo seu carisma gigantesco. Eloy Casagrande, que entrou em 2011, substituindo Jean Dolabella em uma escolha que gerou certa polêmica na época, é sem dúvidas um grande baterista e ganhou o respeito dos fãs. O Paulo… bom, o Paulo é aquele cara que deu sorte na vida. Muita sorte.
Voltando ao show e a parte mais incrível dessa noite tão especial: o setlist. Esse é o 4° show do Sepultura que vejo (todas elas na “era” Derrick Green) e esse simplesmente surpreendeu em termos de setlist. A banda passou por todas as fases da carreira e agradou em cheio o público – que, claro, sentiu falta de algumas músicas, mas que saiu bem satisfeito do show.
Clássicos da fase dos Cavaleras não poderiam ficar de fora: “Troops of Doom”, “Inner Self”, “Dead Embryonic Cells”, “Arise”, “Refuse/Resist”, “Territory”, “Biotech is Godzilla”, “Attitude” e o encerramento com “Roots Bloody Roots” e a frase clássica de Derrick: “Sepultura do Brasil, 1, 2, 3, 4!”.
“Choke”, “Sepulnation” e “Convicted in life”, que fazem parte da história recente da banda, também foram recebidas de forma calorosa pelo público.
O álbum de maior sucesso do Sepultura, o “Roots” de 1996 e último com Max Cavalera, dominou o set list: as já citadas “Roots Bloody Roots” e “Attitude”, assim como entraram no repertório “Breed Apart”, “Cut Throat” e “Ratamahatta” (que, para nossa sorte, não contou com a presença de Carlinhos Brown. Ufa.).
Aliás, esse foi talvez uma das melhores escolhas: não trazer convidados. Era apenas o Sepultura, um palco simples, sem cenário, sem efeitos, nada. Apenas a banda, música e público. Cru como todo o show deveria ser.
Apesar de terem tocados duas covers que se tornaram clássicas na versão da banda, “Polícia” dos Titãs e “Orgasmatron” do Motorhead, o Sepultura deixou de lado as homenagens que fizeram no disco Revolusongs, de 2003, onde regravaram de Massive Attack à Exodus. Poderiam ter incluído aquela versão absurdamente fantástica de “Messiah”, do Hellhammer. Uma pena.
Durante o show, cheguei a outra conclusão – que foi até uma surpresa. Boa parte das pessoas que estavam ao meu redor ali na frente do palco notoriamente desconheciam as músicas mais “primitivas” do Sepultura, da época do Bestial Devastation e Schizophrenia. Essa impressão também aconteceu com músicas de alguns discos mais recentes da banda, como Roorback e Kairos.
Bom, a novidade ficou por conta da homenagem aos fãs que a banda fez em “Sepultura Under My Skin”, que foi bem recebida pelo público.
Definitivamente uma grande noite, esse show de comemoração veio para provar que, mesmo com altos e baixos, começando e recomeçando do zero, brigas e mudanças na formação da banda, nada pode parar o Sepultura. E muito além disso: o Sepultura merece e sempre merecerá o nosso respeito.
Vida longa ao Sepultura!