Mais do que família, amigos e fãs, talvez quem mais sentirá falta do rei do blues B.B. King, que morreu ontem, será sua inseparável Lucille, como era conhecida sua guitarra, uma Gibson ES-345 clássica adaptada que King empunhou em mais de 50 discos em 60 anos de carreira.
B.B. King, batizado Riley Bem King, faleceu em Las Vegas, nos Estados Unidos, aos 89 anos, por complicações do diabetes tipo 2, que o acometia há mais de 20 anos.
O guitarrista nasceu na pequena Itta Bena, no estado do Mississippi, e teve seu primeiro contato musical com os spirituals, cânticos de inspiração religiosa, que eram entoados por seu pai e tio. King só foi conhecer o blues em sua temporada no exército.
Em Memphis, sua atuação num programa de rádio de Sonny Boy Williamson chamou a atenção, tornando-o figurinha carimbada na conhecida estação de rádio WDIA. Na época, o músico ainda era conhecido como Beale Street Blues Boy, mais tarde decidiu chamar-se Blues Boy King para finalmente adotar o nome artístico de B.B. King.
Estamos na década de 50 em um show no Arkansas, foi lá que surgiu sua histórica parceria com Lucille. A boate pegou fogo e os espectadores e músicos correram para fora do recinto. King percebeu que havia esquecido sua guitarra, uma Gibson de 30 dólares, e voltou para buscá-la, não ouvindo os conselhos de seus companheiros de banda sobre o perigo que corria. Conseguiu resgatá-la. Lucille era o nome da mulher que causou a briga e o incêndio e foi assim que King apelidou seu instrumento de trabalho.
No anos 60 e 70, B.B. King começou a se transformar em um verdadeiro ícone pop ao se aproximar dos roqueiros. Em 1969, ficou conhecido do público do rock ao abrir a turnê americana dos Rolling Stones. Tocou também seu blues em países africanos como Uganda, Nigéria e Libéria, como parte da política de boa vizinhança do governo norte-americano.
Nessa época, começou a participar da maioria dos festivais de jazz como os de Newport, Nova Iorque, Montreux e o Kool Jazz Festival. De estilo econômico, B.B. King, que teria dito certa vez que “podia fazer uma nota valer por mil”, flertou com artistas como U2 e Eric Clapton e foi considerado ao lado de Eric Clapton e Jimi Hendrix um dos melhores guitarristas do mundo pela revista Rolling Stone.
Um de seus álbuns mais conhecidos é Live at the Cook Jail, gravado ao vivo numa prisão no Sul dos Estados Unidos em 1972, que se tornou um clássico eterno pela espontaneidade da interação entre o bluesman e os presidiários.
Há 4 anos, com 85 anos, B.B. King fez suas últimas apresentações no Brasil, mesmo após ter anunciado duas ou três vezes que abandonaria os palcos. Ele apresentou-se várias vezes por aqui, em uma delas, tocou para um abarrotado Parque do Ibirapuera, em 1996. B.B. King deixou 15 filhos de mães diferentes e mais de 50 netos e sempre dizia: “aprendi que, quando uma mulher aparece dizendo que o filho é seu, é seu mesmo”.
Colaborou Luis Otávio Carvalho Lopes.