Na entrevista de Lou Reed para o jornalista Bill Flanagan, que lançou nos anos 80 o livro Dentro do Rock (O que eles pensam e como criaram suas musicas), (e que foi lançado no Brasil em 1986, mas que está fora de catálogo há décadas), vemos um artista já consagrado se reinventando na nova década.
Por esse quase ineditismo e relevância, o blog resolveu publicar pequenos trechos das históricas entrevistas, começando com Lou Reed, retratado no verão de ’84, pouco antes de lançar o álbum histórico Mistrial (predecessor do mítico New York). Confiram :
Bill – Você foi o responsável pela expansão do vocabulário do rock, numa época em que ninguém parecia se interessar por isso…
LR – Eu quero ser o Kurt Weill do rock ‘n roll. O meu interesse desde o tempo dos Velvets – tem tido sempre a mesa estrela-guia: a idéia de pegar o rock, com todo seu formato pop, e dar a ele uma forma adulta. Com temas adultos, abordados de forma a despertar o interesse de um adulto como eu. Não me refiro a pegar “Mack the Knife” (de Kurt Weil) e fazer uma coisa fajuto como o Bobby Darin fez. Achei aquilo simplesmente grotesco.
Em primeiro lugar, tem que ser rock ‘n roll. De cima a baixo, uma boa canção de rock. Não quero um enxerto, uma mutação canhestra, bisonha. Tem que preservar a alma, a raiz do rock, ligada ao baixo e à bateria.
Existe um teoria segundo a qual todo bom rock pega a gente da cintura pra baixo. A teoria diz mais, pelo que eu entendo. Diz que se você enxertar nele mais alguma coisa, o teu rock começa a gaguejar e ficar menos rock, menos dançave, menos tudo: acaba perdendo a graça. Existe essa opinião.
E também tem a minha opinião, segundo a qual quem faz a coisa direito, pode ter tudo o que já tinha antes, mais esses outros níveis – se quiser. Pode ter um roteiro e , além disso, misturar uma série de coisas para quem tiver disposto a ouvir. Quem quiser, que ouça.
Mas tudo isso tem mesmo que estar preso ao lance do rock and roll – isto é, nada de muito palavratório, nada de complicar com coisas que tiram a malícia básica de um disco de rock. Faz anos que eu tento isso. Encontrar uma solução para esse problema.
Alguns de meus discos são para você sentar e ouvir. Outros dá pra você levantar e ouvir, conversar e ouvir, dançar e ouvir. Estou tentando equacionar esse problema de como fazer discos de rock and roll. O meu interesse básico é esse.
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Acho que deu certo né, Mistrial (1985) tem sons que tocaram no rádio sem deixar os intelectuais de lado, pelo poder de cada verso, antecedendo seu melhor álbum dos 80’s o incensado New York (1989).
Confira a clássica “No Money Down” – principal single do álbum