Caramba, quando montei o blog e podcast, achei que jamais iria escrever uma resenha para um show tão MPB como esse… ainda bem que a Ná Ozzetti e a incrível banda montada para o show do CD Balangandãs, destaque para o sensacional guitarrista e multi-instrumentista Mário Manga, mostrou todo seu bom gosto e habilidade costumeira.
O caminho dessa vanguarda paulista, sempre foi mesmo difícil, desde a origem com o grupo RUMO preferiram valorizar aspectos, épocas e compositores da música brasileira fora do circuito oficial “Bossa Nova <->Tropicália” .
Para Ná Ozzetti e companheiros de batalha, a jornada independente e de projetos culturais não é novidade. Ambientados a esse mundo da música sem apelo de venda fácil e execução via esquemas exclusivamente comerciais, sua música continua relevante e ainda soa como novidade.
A Banda é incrível… com arranjos que ora respeitaram a tradição e que ora modernizaram as músicas com muita criatividade como Tico tico no fubá.
Com repertório exclusivo de grandes compositores dos anos 30, 40 e 50, o show surpreende…
Esses artistas/compositores que muitas vezes ficaram esquecidos ou relegados ao passado, deram contribuições sem igual à brasilidade musical, mas ficaram sem espaço… como ficou, a própria Carmem Miranda, musa de toda uma geração de brasileiros e que no rádio e no cinema conquistou o Brasil e o mundo.
A repercursão do seu centenário foi pequena nos meios culturais tupiniquins. Não ví nenhuma cantora MPB POP ou musa por talento e/ou hereditariedade, fazer uma homenagem do nível da realizada por Ná e Banda.
Para quem não conhece bem a cantora, tem carreira longa sempre com essa pegada mais independente, e fazendo música de qualidade. Eu ví nos anos 90 duas apresentações dela, que frequenta bem o circuito cultural do Sesc e Sesi.
O destaque de sua performance, sempre foi o bom gosto, afinação e espectro vocal incrível… tecnicamente é das mais perfeitas cantoras que existe. Mas a crítica recebida vinha sempre pelo lado do repertório hermético e de uma suposta falta de carisma.
A verdade é que Ná Ozzetti não é uma cantora POP, leva muito à sério a música e não se acha uma DIVA. Quanto ao repertório, cada um busca para sí um caminho artístico, o caminho trilhado pela cantora é sólido e faz com que sua música, apesar das dificuldades mercadológicas esteja sempre por aí, seja nos shows solos ou nos diversos projetos em que participa.
O show em sí, é bem popular com músicas que estão em nosso imaginário e que ouví quando criança das minhas avós e tias. O repertório de Carmem Miranda é alegre e os novos arranjos tiram as músicas do lugar comum.
Recomendo o show para TODOS que gostam de música – dos 8 aos 100.
O público, no SESC Vila Mariana, foi interessante, ficou ouvindo atentamente e só ousou participar no Bis, e olha que Ná Ozzetti sempre tímida com o público, dessa vez ousou, gesticulou, improvisou, e deixou espaço para se mostrar autêntica mesmo fazendo uma Carmem mais light e menos histrionica que a original.
Foram cerca de 85 minutos de show, que valeu cada segundo.
A faixa etária, era bem alta, terceira idade em peso no show… totalizando um pouco mais de 40% do público presente, seguido da galera que curte o circuito Sesc e que garimpa os shows legais da cidade.
Pelo show recomendo a compra do CD que já está por aí confiram…
SESC Vila Mariana – 23 de Maio de 2009
REPERTÓRIO DO SHOW e CD
Imperador do Samba (Waldemar Silva), Recenseamento (Assis Valente), Camisa Listada (Assis Valente), Na batucada da vida (Ary Barroso e Luiz Peixoto), Ao voltar do samba (Synval Silva), E o mundo não acabou (Assis Valente), Tic tac do meu coração (Walfrido Silva, Alcyr Pires Vermelho), Disseram que voltei americanizada (Luiz Peixoto e Vicente Paiva), Diz que tem (Vicente Paiva e Aníbal Cruz), Boneca de Piche (Ary Barroso e Luiz Iglesias), A preta do acarajé (Dorival Caymmi), O samba e o tango (Amado Regis), Fon-fon (João de Barro e Alberto Caieiro), Touradas de Madri (João de Barro e Alberto Ribeiro), Chattanooga choo-choo (Harry Warren, M.Gordon e Aloysio de Oliveira), Tico tico no fubá (Zequinha de Abreu e Aloysio de Oliveira), Adeus batucada (Synval Silva) e Tahi (Joubert de Carvalho).
Finalmente começam a sair os merecidos belos comentários para o disco da Ná e parceiros incríveis. A tua é bem curiosa ao atentar também para o comportamento do público, mas o roteiro parece prever exatamente o que tu apontaste, lembras que a primeira palavra emitida no show é SILÊNCIO, quando ela canta ‘O Imperador do Samba ‘, e depois de esbanjar carisma e desenvoltura no palco, ela encerra com um taí, eu fiz tudo pra você gostar de mim…